sexta-feira, 24 de abril de 2015

O mundo por trás dos espelhos


Tempo difícil este em que vivemos! Época da competitividade brutal, de um sistema injusto, de pessoas como mente atrofiada e mesquinha, de prevalência dos “paparicos” insaciáveis, de predomínio dos gananciosos, imoralmente inconfessáveis, do utilitarismo adequado aos fins egoístas e dissimulados, em detrimento dos fracos, onde a ideologia dominante passa pelo cinismo da expressão: “Uma mão lava a outra!!!”.



Tempo de resignação e cumplicidade, tempo de decadência, pois o declínio de uma estrutura começa quando alguém, em vez de agir, pergunta a si mesmo: “Como sobreviver à atual situação?”, ao invés de inquirir: “O que houve para tal situação ser provocada?” É aí que inicia a crise, quando o imperativo ético da ação é substituído pela acomodação, quando se renuncia o dever de se exigir o que é real, preferindo estabelecer uma intervenção livre e consciente, por não sorver a verdade propriamente dita, numa escolha pessoalmente satisfatória.

Desta forma pessoas omissas vão se adaptando rapidamente, e sem qualquer resistência, à corrupção desmedida, à violência sem limites, como se isso fizesse parte da normalidade da vida: falsidades, mentiras, criminalidade, violação de direitos, abuso de poder, exploração da credulidade pública, atentados contra moral alheia, ímpetos de agressividade, entre tantas outras cretinices.

Alguém ousaria perguntar se ainda há esperança? É questão de necessidade não confundir “esperança” do verbo “esperançar” com “esperança” do verbo “esperar”, como dizia Paulo Freire. É preciso ter um olho no céu, mas outro na terra. A única esperança de que se deve valer o ser humano é aquela que seja capaz de AGIR, pois esperar é, antes de tudo, existir e não vegetar. Não podemos perder essa capacidade. Somente ela dá ao ser humano senso de destino e energia para recomeçar, mediante tantos que ainda postergam os próprios valores e a idoneidade da profissão que carregam para camuflar um acontecimento por interesse próprio.

A esperança, no seu sentido mais vulgar, pensa que tudo está consumado, que não tem mais jeito, que não existe alternativa, que a vida é isso mesmo e termina tudo na inutilidade da pergunta: “Será que podemos sobreviver a isto?”. Mas que esperança é essa além de omissão e ociosidade? Esperança verdadeira, ao invés disso, é lutar, se erguer, ir atrás. Esperançar é persistir e jamais desistir, ir adiante, executar, com urgência, os nossos ideais, na certeza de que tudo o que é contra a verdade e a honestidade deve ser aniquilado, destruído e posto à prova! É muito fácil julgar o lado que reage (RE-AGE! Responde à uma ação anterior!), quando isto é apenas a consequência do ato, sem sequer minuciar o todo e perceber as partes, analisando friamente o que é verdade de fato.

O que vemos, portanto, é uma sociedade em desalento, extremamente tolerante e covarde, que tende a projetar aos outros a responsabilidade daquilo que nem questiona, abstendo-se de intervir, e o mínimo de intervenção é formulado à maneira a alfinetar com julgamentos, acreditando que as entrelinhas não serão entendidas, onde o analfabetismo é coronário, numa visão particular refletida em seu espelho. Sendo assim, a apatia prospera! A resignação é repugnante! E a cumplicidade inútil, onde a ocasião faz o aliado, consiste apenas em manter as aparências sem tratar da verdadeira questão. 

Expõe sem medidas a traição dos interesses mais legítimos, pois a hipocrisia é latente, evidenciando o somatório podre, a cargo desse jogo de intrigas e da arte de manejar suas posições em proveito próprio. O erro mais nefasto do ser é humano, é omitir-se. Culpar quem luta, é ainda mais abominável. Como dizia Victor Hugo: “Quem poupa o lobo, sacrifica a ovelha”. Aqueles que lutam pela justiça têm voz e com certeza serão ouvidos, enquanto os omissos, alvo predileto da calúnia, enquanto se portam incorrigivelmente errados, jamais terão razão. A estes, restará a mesmice daqueles que hoje zelam como prejudicados, visto que o que não é imparcial, ainda que incognitamente, responde pela imperícia dos mesmos atos.

Por Edna Lacerda.

[Então deixa acontecer...]

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